O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou nesta terça-feira (10), durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), a interpretação de que os atos de 8 de janeiro de 2023 configuraram uma tentativa de golpe de Estado liderada por ele.
Principal réu no inquérito que apura suposta tentativa de permanência no poder após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, Bolsonaro classificou como exageradas as acusações e as punições atribuídas aos envolvidos já julgados.
“Fico até arrepiado quando se fala que o 8 de janeiro foi [um] golpe. Mil e quinhentas pessoas [presas], uns pobres coitados. Cem ônibus chegaram no setor militar urbano. Esse pessoal foi embora logo depois da baderna. Quem realmente fez foi embora, aquilo não é golpe, não foi encontrada uma arma de fogo”, declarou Bolsonaro.
O ex-presidente também demonstrou insatisfação com a severidade das penas aplicadas aos condenados. “O sr. me desculpe, seu ministro, mas eu não consigo entender certas penas para as pessoas que não sabiam o que estavam fazendo naquele momento”, disse, ao comentar os julgamentos de envolvidos na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes.
De acordo com o STF, das 1.586 ações penais abertas em decorrência dos atos de 8 de janeiro — sendo 487 por crimes graves e 1.099 por crimes menos graves —, 497 pessoas já foram condenadas: 256 por crimes graves e 249 por crimes menos graves. Até o momento, oito acusados foram absolvidos.
Negativa de apoio das Forças Armadas
Durante o depoimento, Bolsonaro também negou ter recebido qualquer tipo de apoio por parte das Forças Armadas para um possível movimento de tomada de poder. Em especial, rejeitou a versão dada pelo ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Baptista Júnior, de que o então comandante da Marinha teria colocado tropas à disposição do governo em caso de ruptura institucional.
"Não existe isso. Se fôssemos prosseguir no estado de sítio ou de defesa, as medidas seriam outras, na ponta da linha, outras instituições envolvidas. Não tinha clima, não tinha oportunidade, não tínhamos base minimamente sólida para fazer qualquer coisa. Só foi conversado hipóteses constitucionais, tendo em vista o TSE ter fechado as portas pra gente, com aquela multa”, afirmou, em referência à penalidade de R$ 22 milhões aplicada ao PL.
Bolsonaro também fez um apelo ao ministro Moraes, que presidia o TSE à época da multa. “Espero que um dia vossa excelência possa reconsiderar. Está fazendo muita falta para o partido”, disse o ex-presidente. Moraes respondeu: “Transitou em julgado porque o plenário do TSE confirmou.”