Moradora da Rua Araponga, no bairro Macuco, em Timóteo, a senhora Lourdes, de 68 anos, vive uma rotina de medo, exaustão e desamparo. Com várias comorbidades e dependente do uso contínuo de oxigênio e medicamentos, a idosa divide a residência com a filha de 44 anos, diagnosticada, ainda na infância, com meningite e que hoje é acometida por uma deficiência intelectual e faz uso de remédios controlados. Segundo relatos encaminhados à nossa equipe, a filha está em surto e apresenta comportamento agressivo e imprevisível.
Os episódios de crises de agressividade vêm se intensificando. De acordo com Lourdes, a filha já destruiu diversos objetos da casa, incluindo a máquina de lavar, e recentemente arrancou fios da rede elétrica do padrão da residência, o que resultou em um choque elétrico e queimaduras nos dedos. Outro momento relatado pela senhora Lourdes, foi a agressão a um dos vizinhos da família, que ficou queimado com o café quente lançado nele, pela filha.
Além das agressões, a filha quebrou todos os vidros das janelas e portas da casa. Com o frio intenso, a idosa tem dormido com um simples lençol improvisado para cobrir a janela do quarto e um plástico cobrindo apenas metade da porta de entrada da casa. Na outra metade, um emaranhado de arame farpado para trazer uma certa sensação de segurança.
Lourdes também relatou sobre as fugas da filha. Houve episódios em que ela foi encontrada na rua, quebrando o retrovisor de um carro que estava estacionado na rua.
A idosa afirma que não tem mais condições físicas ou psicológicas de cuidar da filha sozinha e teme pela própria vida e pela segurança da filha. “Tenho medo de morrer aqui dentro e ninguém saber. Não tenho mais forças. Preciso de ajuda”, desabafa Lourdes, visivelmente abalada.
A situação se agrava. Lourdes relata que não recebe visitas médicas domiciliares, nem para ela nem para a filha, e que não há assistente social atendendo o bairro Macuco. Apesar de já ter procurado ajuda junto ao CRAS, não obteve retorno.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Timóteo, por meio das Secretarias de Assistência Social e de Saúde, informou que está ciente da situação e que a família é acompanhada pelas equipes das unidades de saúde e assistência.
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social esclareceu, em nota, que a assistente social responsável pelo bairro Macuco está de férias, mas que os atendimentos estão sendo realizados no CRAS do bairro Limoeiro. A família teria um atendimento agendado para o dia 3 de julho, e a filha da idosa já foi inserida no programa do Centro Dia da APAE, mas estaria frequentando as atividades de forma irregular, sem justificativas da família.
A Secretaria de Saúde informou que a paciente é regularmente assistida pela equipe da Estratégia de Saúde da Família da Unidade Básica do bairro Macuco, com atendimento médico e de enfermagem realizados tanto na UBS quanto em visitas domiciliares. A agente comunitária de saúde da área estaria mantendo contato frequente com a família, inclusive fora do horário de expediente, e a paciente foi encaminhada para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde recebeu acolhimento.
Ainda segundo a Prefeitura, a filha da idosa é legalmente curatelada por outra irmã, que reside no mesmo terreno, em outra casa.
Apesar das ações relatadas, a senhora Lourdes afirma que se sente sozinha e desassistida. “Falam que estão fazendo o acompanhamento, mas eu estou aqui, sozinha, sem conseguir acalmar a minha filha, sem saber o que fazer. Eu preciso de ajuda”, lamenta.
Diante da gravidade da situação e do risco à integridade física de todos os envolvidos, moradores da vizinhança também demonstram preocupação com a falta de uma solução definitiva. A reportagem seguirá acompanhando o caso.
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