A imagem de um triatleta vomitando após nadar no rio Sena viralizou nas redes sociais, levantando dúvidas sobre a qualidade da água. Tyler Mislawchuk, da equipe canadense de triatlo, foi flagrado vomitando ao final da prova, reacendendo o debate sobre a segurança do Sena, reaberto para natação após mais de um século.
A polêmica em torno do Sena é antiga. Paris prometeu realizar competições no rio, um símbolo da cidade, investindo milhões em despoluição. O banho no Sena estava proibido desde 1923. Porém, treinos e uma prova foram adiados recentemente devido à má qualidade da água, e a primeira competição, um triatlo, aconteceu na quarta-feira (31). O desafio incluiu 500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida, um esforço intenso que durou mais de uma hora.
Tyler Mislawchuk vomitou após a corrida, o que gerou especulações sobre uma possível relação com a água do rio. No entanto, especialistas descartam uma intoxicação tão rápida, explicando que o vômito ocorreu devido ao esforço físico e à ingestão de água durante a corrida, como o próprio atleta relatou em suas redes sociais. Segundo o comitê organizador, este foi apenas um dos dez episódios de vômito que ele sofreu.
Apesar da reação inusitada, vomitar ao fim de provas intensas de triatlo não é incomum. Em 2021, o campeão olímpico Kristian Blummenfelt também vomitou após cruzar a linha de chegada nas Olimpíadas de Tóquio. Marcelo Ortiz, treinador da equipe brasileira de triatlo, explicou que a alta intensidade no final da prova provoca uma acidose no organismo, que pode resultar em vômitos.
Especialistas descartam que o episódio tenha sido causado pela qualidade da água. Eduardo Medeiros, infectologista e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia, afirma que uma intoxicação por bactérias presentes na água do rio levaria pelo menos 48 horas para manifestar sintomas como vômitos ou diarreia. O médico Alex Lacerda acrescenta que a resposta do corpo a esforços intensos, como os enfrentados em um triatlo, pode incluir vômito, especialmente se o estômago estiver agitado durante a atividade.
No entanto, a Sociedade Francesa de Infectologia alertou sobre os riscos de doenças como a leptospirose em contato com a água do Sena. Pierre Tattevin, presidente da entidade, destacou que, apesar dos esforços de despoluição, o risco de leptospirose, transmitida pelo contato com a urina de ratos, permanece elevado. Dados da agência de saúde pública francesa, Santé Publique France, apontam que em 2022 foram diagnosticados cerca de 600 casos de leptospirose no país, um número que pode ser subestimado.
A leptospirose é tratável com antibióticos como a amoxicilina, mas, se não tratada adequadamente, pode causar complicações graves, como insuficiência renal, e em casos extremos, levar à morte.