No cotidiano de Gil Lopes, um pipoqueiro de 58 anos, a tecnologia é uma aliada essencial. Pai de seis filhos, ele depende do celular para se manter conectado com eles, mesmo à distância. Com o fone de ouvido sempre presente, Gil ouve mensagens de áudio que seus filhos enviam enquanto ele trabalha em Brasília. Essas mensagens, por mais simples que sejam, são preciosas para ele, uma forma de amenizar a saudade desde que seus filhos começaram a sair de casa.
A tecnologia, no entanto, não é apenas um meio de comunicação, mas também um desafio para a paternidade ativa. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil discutem como as evoluções no uso do celular e da internet têm impactado as relações familiares. O neurologista pediátrico Eduardo Jorge Custódio da Silva ressalta que, se bem utilizada, a tecnologia pode aproximar, permitindo, por exemplo, que um pai ausente fisicamente ainda participe da vida dos filhos através de videochamadas.
Por outro lado, a professora Sandra Rúbia da Silva, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), adverte que é fundamental que os pais equilibrem o tempo dedicado às telas com a participação em atividades presenciais com os filhos. Ela observa que, enquanto os pais veem o celular como uma ferramenta de segurança, os filhos enxergam as redes sociais como um espaço de troca de afetos e saberes. Essa dualidade coloca as relações familiares em um novo patamar, com a tecnologia sendo tanto uma ponte quanto uma barreira.
O excesso de tempo em frente às telas é um alerta importante. O neurologista Eduardo Jorge Custódio destaca que cenas de famílias reunidas, mas cada uma focada em seus dispositivos, são preocupantes. Para ele, é essencial que os pais estejam presentes de verdade, interagindo com os filhos de maneira física e emocional.
A professora Leila Cury Tardivo, da Universidade de São Paulo (USP), reforça que os pais devem usar a tecnologia de forma a se aproximar dos filhos, mas sem deixar de lado o diálogo e o contato físico. Em um mundo de diversas configurações familiares, a paternidade ativa exige participação e compartilhamento de responsabilidades.
Américo Oliveira, um agricultor aposentado de 63 anos, é um exemplo de como equilibrar a tecnologia e a paternidade. Morador do Gama, no Distrito Federal, ele usa o celular para manter contato com seus filhos, mas também incentiva o filho mais novo a brincar ao ar livre e a conversar sobre o que vê nas telas. Para Américo, é uma luta diária, mas ele acredita no valor de estar presente e de construir um diálogo com o filho.
A tecnologia, portanto, pode tanto aproximar quanto afastar pais e filhos. O segredo está no uso consciente e equilibrado, que fortalece os laços familiares sem deixar de lado a presença física e emocional.