Por Edmílson Firmino
Ipatinga viveu nas últimas 72 horas que antecederam as eleições municipais uma enorme repercussão nos meios políticos, em torno de áudios vazados de suposto suborno envolvendo o prefeito reeleito Gustavo Nunes, do PL, ex-assessores e um empresário do ramo de jogos de apostas. Uma coletiva de imprensa foi feita pelo então candidato a prefeito Heleno do Hospital, do PP, para sexta-feira (4) para divulgação da sonora dos áudios. Neste ínterim, os áudios já eram compartilhados a todo vapor nas redes sociais, sendo desmentidos simultaneamente pelos apoiadores do grupo de Gustavo Nunes como fake news produzidas por meio de montagens do uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA).
Antes que a argumentação do uso da IA ganhasse força, surge em cena outro personagem da história, um empresário para confirmar, por intermédio de um vídeo, que o áudio era verdadeiro e que de fato envolveu-se numa tramoia direta com Gustavo Nunes e seus assessores.
Mas, afinal, qual o impacto das gravíssimas denúncias contra o prefeito Gustavo Nunes, que liderava as pesquisas de intenção de voto? Será que os eleitores tomaram conhecimento dos áudios? E os eleitores que já optaram pelo Nunes teriam tendência de mudar o voto horas antes da eleição?
Neste meio-tempo, fui convidado pelo comunicador Jonair Cordeiro para o programa VOX Debate, no sábado (5), quando certamente, enquanto pesquisador, estaria sendo provocado pelos ouvintes, internautas e pelo próprio âncora do prestigiado programa.
Às pressas, já na tarde de sexta-feira (4), mobilizei uma equipe de pesquisadores para ir às ruas realizar uma amostragem. Sem achismo, queria sanar as dúvidas de forma científica e confiável. O estudo terminou durante o programa, às 11h, e revelava que 70% dos eleitores até aquele momento não tomaram conhecimento do áudio até então. Mas e dos 30% que acessaram o áudio, qual a percepção deles? Era a minha curiosidade maior.
E não é que, mesmo acessando o áudio, a maioria esmagadora dos eleitores revelou que ‘não pretendia mudar o voto’, dentre eles, os próprios eleitores de Gustavo Nunes. Incrivelmente, Gustavo Nunes até apresentava tendência de crescimento de votos na reta final e não de retração, conforme antecipei com exclusividade no programa Vox Debate.
Após a vitória de Nunes, agora, o que se questiona é por que os áudios não surtiram os efeitos esperados por parte do candidato Heleno do Hospital. Previamente, culpar a imprensa por omissão não é prudente. A bem da verdade, são vários outros fatores que podem gerar um novo artigo, mas a minha de experiência em várias campanhas eleitorais nos remete que muito raramente os eleitores botam fé em denúncias de última hora, por mais graves que possam parecer os fatos. Assimilam-se como factoides – espúria apresentada como fato, mas sem provas. Os eleitores de direita são ainda mais céticos de denúncias adversas aos seus políticos de preferência.
No campo da especulação, provavelmente, se os áudios fossem revelados com maior intervalo de tempo até 6 de outubro, o impacto seria outro. Indiferente, Gustavo Nunes foi reeleito com quase 45% dos votos válidos em meio a uma avalanche de denúncias, confirmando a tendência de desempenho eleitoral em pesquisa publicada pelo DIÁRIO DO AÇO.
Inobstante, Nunes assume um novo mandato em 1º de janeiro com um desafio muito maior, em detrimento do primeiro mandato. Sem entrar no mérito da veracidade das acusações, Gustavo Nunes vai ter a árdua missão de se defender na justiça pelo suposto envolvimento com um empresário que já se autoincriminou corruptor. Como se não bastasse, Nunes já responde a outros processos de improbidades administrativas. Logo, a eleição de 2024 em Ipatinga não terminou no domingo, mesmo que tenha produzido, literalmente, um amontoado de esqueletos humanos.
Edmílson Firmino
Pesquisador e estrategista eleitoral da Tabulare Pesquisa & Inteligência