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Tragédia com circo, leões e morte de crianças em Coronel Fabriciano completou 35 anos

Pais das vítimas que morreram, quase duas décadas depois, esperavam punição aos responsáveis, o que nunca ocorreu. Irmão mais novo das crianças mortas em 1988 concedeu entrevista exclusiva aos canais VOX

28/08/2023 às 19h04
Por: Fernando Silva
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Foto: Arquivo
Foto: Arquivo

Uma inesquecível tragédia, que colocou a cidade de Coronel Fabriciano no mapa do noticiário em Minas, no Brasil e até no mundo completou 35 anos em 2023.

O ano é 1988, dia 04 de junho, um sábado à tarde, por volta das 17h15. 

Vindo de Timóteo e instalado nas imediações da Rua São Sebastião, região central, em frente à atual catedral fabricianense, no local onde funcionaria, anos depois, o extinto Supermercado Santa Efigênia, o Circo Húngaro estava de passagem pela cidade desde o dia 27 de maio. Motivo suficiente para que houvesse, naqueles dias, uma grande procura por ingressos.

Na ocasião, entre as chamadas atrações do circo, estavam três leões, que faziam parte da apresentação de um domador durante cada sessão.

Na plateia: duas crianças, duas irmãs, que, infelizmente, não voltariam mais pra casa. 

Levadas ao circo pelos tios, as pequenas: Maira Gomes da Silva, de 5 anos, e Marina Gomes Alves da Silva, de 2, moradoras do bairro Universitário, em Coronel Fabriciano, acompanhavam, logo nos primeiros minutos de sessão, a exibição do domador Jefferson Weber da Conceição, à época com 27 anos, que apresentava, no picadeiro, uma jaula com os três leões.

Segundo relatos, Jefferson tentava fazer com que os três leões subissem nos tamboretes colocados para a apresentação.

Nesse momento, para o temor de todos, um dos leões escapou da jaula, entre o picadeiro e a arquibancada, o que permitiu que os outros dois leões também escapassem.

O domador controlou um dos animais. Porém, os outros dois leões, um macho, de nome “Maradona”, e uma fêmea, denominada “Diana”, avançaram em direção à plateia e atacaram as duas pequenas vítimas. 

Em seguida, um leão avançou na direção da cabeça de Maira, enquanto o outro animal deu uma patada em Marina.

Na luta para fazer com que o leão soltasse a cabeça da mais velha, o tio das duas irmãs sofreu deslocamento no braço, na altura da junta com o ombro.

Após os ataques dos dois animais, um deles foi controlado pelo domador, e o outro leão fugiu, sendo capturado mais tarde pela Polícia Militar em um terreno baldio da cidade, nas proximidades do circo.

Informações oficiais da época davam conta de que Maira foi mordida, de fato, na cabeça, e que sua irmã, Marina, teve a coluna vertebral fraturada e os pulmões perfurados por conta de dentadas e patadas de um dos leões.

Maira faleceu na antiga Casa de Saúde Hospital Nossa Senhora do Carmo, onde ela chegou de forma agonizante, com lesões por todo o corpo, sendo as mais graves na cabeça. 

Atendida pelo médico Dr. Agostinho Pereira Vasconcelos, Maira foi encaminhada ao centro cirúrgico do hospital, mas não houve tempo o suficiente para que algo pudesse ser feito a fim de preservar a sua vida.

Já Marina sofreu parada cardíaca ao final de um procedimento cirúrgico no antigo Hospital Siderúrgica, hoje, Hospital Dr. José Maria Morais. Ela foi operada pelo médico Dr. Márcio Quintão, mas também não resistiu e faleceu.

Maira e Marina foram enterradas na tarde do domingo, dia 05 de junho, em Coronel Fabriciano, sob muita comoção, de parentes e vizinhos.

Além do tio das meninas, a tia, esposa dele e irmã da mãe das vítimas, foi ferida no braço com cortes provocados pelas garras dos leões. O tio e a tia das vítimas tinham 33 anos em 1988.

Os dois filhos do casal, um menino de três anos e uma menina de dois, que também estavam no Circo Húngaro, nada sofreram.

Segundo relatos de 1988, o tio costumava levar as sobrinhas para passear, desde que o cunhado e pai de Maira e Marina havia ido ao Canadá, um ano antes, em busca de trabalho.

Denúncia em 1988

Segundo informações da época, o 1º promotor da Comarca de Coronel Fabriciano, Dr. Ricardo Cavalcanti Motta, denunciou o empresário de diversões e apontado como dono do Circo Húngaro, Leopoldo de Almeida Signorelli, à época com 28 anos, e o domador Jefferson Weber Conceição, além do gerente do circo, Dorival Garrido Feitosa, com 40 anos em 1988. Todos denunciados por homicídio culposo, quando não se tem a intenção de matar.

O delegado de Polícia que atuava em Coronel Fabriciano à época, Dr. Osman Canella, indiciou na segunda-feira, dia 06 de junho de 1988, o domador Jefferson Weber da Conceição e o gerente do Circo Húngaro, Dorival Garrido Feitosa, por duplo homicídio culposo, com inquérito sumário.

O promotor de Justiça afirmou, na ocasião, segundo relatou a imprensa em 1988, que “o motivo do evento foi devido à falta de manutenção eficaz na jaula, criando uma fenda, quando uma fera esbarrou em sua grade ao sair de uma manobra. Já havia, ao lado, outra fenda aberta na grade, não consertada como deveria estar. Também, a fome dos animais foi outra causa, visto que não se alimentavam diariamente. Houve negligência. Ocorreu também imprudência do domador Jefferson Weber Conceição, que confiou em seu domínio sobre as feras e ousou fazer o espetáculo em precariedade total de segurança. As feras, como visto, não eram mansas, tendo sido ainda maior a ousadia em lidar com um perigo plenamente visível. Afinal, houve, conjuntamente, imperícia, visto que o domador, aberta a jaula, não logrou dominar os animais selvagens. Devem, portanto, os acusados, pagar pelo grave ônus que suas irresponsabilidades causaram às vítimas e a esta sociedade”, pontuou o promotor de Justiça em 1988, Dr. Ricardo Cavalcanti Motta.

A juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Coronel Fabriciano, Dra. Vanessa Verdolin Hudson Andrade, depois de receber a denúncia, expediu, dias depois, carta precatória para que Leopoldo Signorelli, apontado como dono do Circo Húngaro, e Jefferson Weber Conceição, o domador, fossem citados judicialmente em São Paulo, e Dorival Garrido Feitosa, apontado como gerente do circo, em Belo Horizonte, sobre o interrogatório a que os mesmos seriam submetidos no dia 30 de junho, às 13h, no Fórum de Coronel Fabriciano.

Os leões, que tinham seis meses de idade, foram apreendidos pela polícia, mas, por falta de local adequado, permaneceram no circo, que foi interditado. 

Circo já tinha apresentado problemas dias antes

Na época, um outro tio das duas vítimas revelou ter sido informado de que outros acidentes ocorreram no Circo Húngaro, em Coronel Fabriciano, tendo sido um deles, segundo esse tio, no chamado Globo da Morte; o outro, no trapézio; e um outro acidente na própria arquibancada do circo.

Família das vítimas

Segundo o Jornal Diário do Rio Doce, de 8 de junho de 1988, Maria Joana Mercês Silva, a mãe das meninas, na época com 32 anos, gritava aos prantos: “Ninguém pode trazer de volta as minhas filhas, mas tenho fé de que Deus saberá punir os responsáveis”.

Maria Joana faleceu no dia 1 de março de 2016, sem ter visto o desfecho que ela tanto esperava. 

Já de volta ao Brasil, o pai das meninas, Raimundo Arruda da Silva, morreu no ano seguinte, 2017.

O casal deixou um filho, de nome Ramon Gomes, hoje casado e pai de família, e que, na época, estava prestes a completar 1 ano de idade, quando da tragédia ocorrida com suas duas irmãs, em 04 de junho de 1988.

Em 1988, um dos acusados minimizou a tragédia 

Segundo o mesmo Jornal Diário do Rio Doce, de 8 de junho daquele ano, o gerente do Circo Húngaro, Dorival Garrido Feitosa, aparentemente bastante calmo, de acordo com a publicação, tentava justificar o acidente.

“Os animais são mansos, e se ninguém se apavorasse, nada aconteceria. Não há culpados. O que houve foi uma fatalidade”, avaliou o gerente do circo.

O Jornal Diário do Rio Doce informou que os três denunciados prestaram depoimento na delegacia de polícia de Coronel Fabriciano, e que o Circo Húngaro deixaria a cidade quatro dias após a tragédia.

Zoológico de BH rejeitou leões do Circo Húngaro

Ainda segundo o jornal, Leopoldo Signorelli, o dono do circo, disse que pretendia doar os animais ao zoológico de Belo Horizonte, e que, no entanto, o biólogo Celso Baeta Neves, chefe da seção de mamíferos do mesmo zoológico, informou que não havia interesse nos leões, ao explicar que não havia espaço para recebê-los no zoológico de BH, onde o principal público eram as crianças, e que seria “desagradável”, de acordo com o biólogo, manter ali leões causadores da morte de duas crianças.

Impunidade

Para a tristeza da família das meninas fabricianenses e revolta da população da cidade, o empresário de diversões e apontado como dono do Circo Húngaro, Leopoldo de Almeida Signorelli; o então domador, Jefferson Weber Conceição; e o gerente do circo em 1988, Dorival Garrido Feitosa; nunca pagaram pelo crime.

A Reportagem VOX não conseguiu localizar os três responsáveis pela tragédia em Coronel Fabriciano há 35 anos.

Morador de Coronel Fabriciano, Marcos Judsson tinha levado os filhos dias antes ao Circo Húngaro:

Outro morador da cidade, que não quis se identificar, trabalhou como vendedor de balas para o Circo Húngaro e assistiu ao momento em que os leões atacaram as duas crianças:

A Reportagem do Baú 97 também ouviu o ex-jogador do Social FC, de Coronel Fabriciano, Pedro Márcio Milanez, o Ferreirão, que faleceu em abril de 2023:

Vizinho da família das vítimas há 35 anos, no bairro Universitário, em Coronel Fabriciano, Rilson Vieira de Sá, que hoje mora em Milão, na Itália, esteve no local da tragédia pouco depois do ataque dos leões:

Outro vizinho da família, Wendel Dóia, também relembrou a tragédia ocorrida há 35 anos em Coronel Fabriciano

 

O jornalista José Rodrigues do Amaral, o Carioca, morador da Rua Sebastião, a mesma onde estava instalado o Circo Húngaro, no Centro de Coronel Fabriciano, levantou algumas reflexões sobre a tragédia de 1988

A Reportagem do Baú 97 foi à casa da família, no bairro Universitário, em Coronel Fabriciano, onde o irmão das meninas mortas pelos leões, Ramon Gomes da Silva, concedeu uma entrevista reveladora:

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anonimoHá 2 anos coronel fabricianoSó digitar o nome do dono do circo no instagram e vai achar. A foto de um camaro amarelo no perfil. O proprietário continua trabalhando com circo. Nome dele é @leopoldosignorelli
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Coronel Fabriciano - MG
Sobre o município
Coronel Fabriciano é um município brasileiro no interior do estado de Minas Gerais, Região Sudeste do país. Localiza-se no Vale do Rio Doce e pertence à Região Metropolitana do Vale do Aço, estando situado a cerca de 200 km a leste da capital do estado.
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