O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação oficial do Brasil, registrou um aumento de 0,52% em dezembro de 2024, superando o avanço de 0,39% observado em novembro. Com isso, a inflação acumulada no ano alcançou 4,83%, ultrapassando o limite superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 4,5%. Este é o oitavo descumprimento da meta desde a implementação do sistema de metas de inflação no Brasil, em 1999.
A meta para 2024 havia sido fixada em 3%, com um intervalo de variação de 1,5 ponto percentual, ou seja, o piso seria de 1,5% e o teto de 4,5%. A meta foi definida para controlar o avanço da inflação e é acompanhada pelo Banco Central, que utiliza o IPCA como referência para ajustes na taxa de juros, a Selic. Com o estouro da meta, o Banco Central deverá enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos para o descumprimento.
O impacto da inflação em 2024 foi fortemente influenciado pelos grupos de Alimentação e Bebidas, Saúde e Cuidados Pessoais, e Transportes. O grupo de Alimentação e Bebidas, por exemplo, teve uma alta de 7,69%, representando a maior contribuição para o índice geral, com um impacto de 1,63 ponto percentual. Dentro deste grupo, os preços da carne subiram 20,84%, o café moído teve um aumento de 39,60%, e o leite longa vida ficou 18,83% mais caro. Já a alimentação fora do domicílio teve um aumento de 6,29%, com o preço das refeições subindo 5,70% e o lanche, 7,56%.
O grupo Saúde e Cuidados Pessoais teve um avanço de 6,09%, sendo impulsionado principalmente pelo aumento nos planos de saúde (7,87%) e pelos produtos farmacêuticos (5,95%), que refletiram o reajuste nos preços dos medicamentos. Em Transportes, os preços da gasolina subiram 9,71%, o que teve um peso significativo no IPCA de 2024. O etanol também apresentou alta de 17,58%, e o conserto de automóvel teve um aumento de 5,88%.
A variação de preços também foi observada em Habitação, com destaque para o aumento no custo do condomínio (6,25%) e do aluguel residencial (3,45%). No entanto, a energia elétrica teve uma redução de 0,37%, embora tenha variado entre as bandeiras tarifárias durante o ano.
Em relação às regiões do país, São Luís foi a cidade com a maior variação da inflação em 2024, com um aumento de 6,51%, influenciada principalmente pelas altas nos preços da gasolina e das carnes. Já Porto Alegre apresentou o menor aumento, com 3,57%, devido às quedas nos preços da cebola, tomate e passagens aéreas.
Os analistas financeiros do mercado haviam previsto uma inflação de 4,89% para 2024, e o Banco Central também havia admitido que a meta seria descumprida. O BC revisou suas projeções para os anos seguintes, elevando as estimativas para 2025 e 2026.
Com a mudança na sistemática da meta de inflação a partir de 2025, o governo federal adotará o modelo de "meta contínua", que avalia a inflação acumulada ao longo de 12 meses, em vez de fixar um objetivo anual. O novo modelo permitirá uma avaliação mensal da inflação, deslocando o foco da análise de dezembro para uma verificação mais flexível ao longo do ano.
O descumprimento da meta gerou críticas de setores políticos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), que, por meio de sua presidente Gleisi Hoffmann, questionou a fixação de metas "irrealistas" para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é que o debate sobre a política de metas inflacionárias continue a ser um tema relevante nos próximos anos, especialmente em um cenário econômico desafiador para o país.